A importância de brincar e jogar na terapia com crianças

A brincadeira e o jogo dão voz ao que não é dito, mas que emerge por outras vias.

Na terapia com crianças, a brincadeira e o jogo assumem um papel fundamental. As atividades lúdicas são a forma de comunicação privilegiada pela criança. É a sua linguagem, o seu meio de expressão. Através do brinquedo, expressam-se e expressam a sua própria forma de ver o mundo – desde a integração sensorial ao jogo simbólico. A integração sensorial constitui um mecanismo importante para a exploração e desenvolvimento de competências. Através dos sentidos, a criança explora mecanismos de autorregulação corporal e emocional, seja na descarga de tensões ou na procura de momentos de relaxamento. O brinquedo assume o papel de objeto transitivo e intermediário entre o dentro e o fora, o mundo interno e o externo, a criança e o ambiente à sua volta – uma espécie de espaço intermédio no contacto com o outro e com a realidade. Por sua vez, a expressão pelo jogo simbólico – o brincar ao faz-de-conta – permite encenar conflitos internos, medos e angústias num plano paralelo, criando a distância por vezes necessária à elaboração mental e à regulação emocional. Da simples reconstituição da realidade à mistura de combinações imaginárias, a criança reconstrói a realidade de uma forma que lhe seja mais compreensível. A imaginação é usada para entender o mundo, e a criatividade abre caminho para um potencial de comunicação mais vasto no acesso ao mundo interno da criança. A fantasia funciona muitas vezes enquanto mecanismo alternativo de expressão, facilitador da partilha de coisas mais complexas ou angustiantes e via para o processamento e integração de pensamentos, emoções e recursos internos mais adaptativos e funcionais. Dos heróis aos vilões, dos polícias aos ladrões, a criança experimenta papéis, expressa e explora os seus próprios conflitos internos e limites, e protagoniza os seus desafios e conquistas – os arquétipos mágicos que têm o poder de nos ajudar a lidar com o mundo real. Já o jogo surge como meio de exploração das capacidades da criança para rivalizar e competir, espaço de comparação, de procura de aprovação e de gestão da frustração. Oportunidade para explorar o medo de perder, a contrariedade ou o conforto perante as regras, a possibilidade de fazer batota e inventar regras próprias no ensaio para a vida real. A brincadeira e o jogo dão voz ao que não é dito, mas que emerge por outras vias. O silêncio em si pode ter um potencial revelador e enriquecedor, pela importância da linguagem não verbal e pela necessidade de respeitarmos o ritmo da criança na sua própria direção interna e funcionamento. O silêncio é conteúdo, mas também pode ser forma – tempo de reflexão, elaboração ou refúgio. Tudo isto enquadrado num ambiente contentor e numa relação terapêutica segura, onde predomina a não diretividade e o apelo à expressão livre, em que as brincadeiras e jogos são mais lúdicos que pedagógicos, palco do disparate, essencial ao crescimento – oportunidade para falhar, repetir e reparar. Tudo isto é acolhido numa perspetiva empática, no reconhecimento e aceitação da criança na sua individualidade, necessidades, competências e fragilidades, favorecendo um espaço e tempo próprios para ser e crescer.