A música que nos toca: o poder terapêutico da música

Pano de fundo para a celebração, aconchego na solidão, voz do sofrimento e alimento para a memória, transporta-nos na sua intencionalidade e sentimentos – nossos – e proporciona-nos mecanismos emocionais próprios de catarse e elaboração afetiva.
A música parece trazer-nos um reconforto profundo fora do alcance das palavras. No seu livro Musicofilia, Oliver Sacks diz-nos que “a música pode ter um poder único de falar com a nossa condição (…) no que se refere à expressão de estados interiores ou de sentimentos (…) é capaz de nos tocar diretamente no coração; não requer mediações.” Intemporal, a música acompanha-nos e conta as nossas histórias ao longo da vida. Tem tanto de abstrato como de emocional: a mesma música pode ter significados profundos e diferentes para pessoa distintas. Pano de fundo para a celebração, aconchego na solidão, voz do sofrimento e alimento para a memória, transporta-nos na sua intencionalidade e sentimentos – nossos – e proporciona-nos mecanismos emocionais próprios de catarse e elaboração afetiva. Todos temos uma música associada a momentos específicos da nossa vida, todos ficamos com músicas na cabeça que colam um dia inteiro, muitos de nós procuramos uma música mais melancólica quando nos sentimos tristes, ou aquela música mexida que nos confirma a energia de um dia bom. Expressão do caos ou da harmonia, tem o poder de falar connosco numa linguagem afetiva, além-palavras, carregada de significado revelador e transformador. É também uma experiência sensorial capaz de nos libertar. Via de escape, metabolismo da dor e banda sonora do nosso quotidiano, faz parte de nós para lá das fronteiras da nossa consciência. Capaz de nos fazer recordar memórias aparentemente perdidas; é motor de sonhos e fonte de inspiração – uma viagem no tempo entre passado e projeção futura, com os pés no presente. Transporta-nos para universos paralelos mais encantados ou obscuros – nossos – onde nos relacionamos mais intimamente com a nossa autenticidade. O poder dos sons, ritmos e composições para comunicar connosco de uma forma tão abstrata, mas tão certeira. A música é uma espécie de linguagem universal que todos parecemos entender muito além do que efetivamente nos apercebemos. Termino como comecei, com outras palavras de Oliver Sacks: “a música parece resistir ou sobreviver às perdas da amnésia ou do alzheimer, pode assim resistir também às distorções da psicose e penetrar nos estados mais profundos da melancolia ou loucura, muitas vezes quando mais nada o consegue.”